o beijo. a terra.
e as almas de tão unidas respiram uma só
tão suave este encontro quanto urgente
sorrio ao imaginar. abro os olhos. corro ao jardim
beijo a terra plantada a flores de inverno
ela te vibrará o beijo que lhe entrego.
não se descreve o viver. para quê tentar?
e as almas de tão unidas respiram uma só
tão suave este encontro quanto urgente
sorrio ao imaginar. abro os olhos. corro ao jardim
beijo a terra plantada a flores de inverno
ela te vibrará o beijo que lhe entrego.
tira depressa a luz que tinhas na janela
fecha as portas de madeira para que não
te vejam nem a sombra pelos vidros
varre antes as pegadas de terra
que deixaste no tapete de entrada
vai sentar-te no escuro. manda calar o cão.
não há verdade. há uma gama de verdades .
parecidas ou iguais
e se ficares assim quieta. calada
no recanto da casa sossegada
todos passarão de largo sem te ver.
depois? - depois é a tarefa lenta de esquecer.
fosse-me o corpo jovem mais que a mente e atreveria verdades no olhar-te.
e no entanto o meu corpo ainda é quente e queira ou não, ainda sei amar
o que é que se interpõe? - tu próprio e tanta gente
tanto caminho me separa de ti ! tanto caminho - sei - a não pisar.
virgens de mim , dos meus traços de afecto, ficarão os caminhos
tão livres quanto são
e eu? eu refugiu-me num calmo fantasiar
a olhar-te e a amar-te e a contornar-te de longe o rosto com a mão.
mas basta-me então esse imaginado tactear?
não, meu Amigo. é bem claro que não.
e já que não posso chamar-te meu amor, uso da liberdade que me assiste
de não fingir tratar-te como irmão.
mais Florbelas, não!
instantes brancos em caminhos áridos não regam a secura, iluminam. tão breve brevemente como o voo da borboleta branca na paisagem.
tal como o que sinto hoje é a passagem entre o que fui e o que vou tornar a ser. e tenho de acelerar o passo. não me sei já vestir deste excitante e ainda assim lasso, sonho de amar.
não posso. não sei. não quero!
eia tanto não!
adolescente a negar com a mão e a dizer sim com o corpo todo e o pensamento.
o mais sadio é rir. rir-me de mim, depressa e antes que me esqueça ou que eu aqueça ao colo uma ilusão.
contornei-te os lábios com os dedos. não os sabia tão capazes ainda de uma leveza assim. depois todo o perfil. devagar. devagar. a minha comoção era tamanha que quase tive vontade de chorar, não de tristeza. não. era tolice. de profunda ternura. nada mais.
para quê chamar-lhe amor? as palavras são um pouco como o sal. só na medida certa apuram o sabor.
depois. depois deixei pender as mãos. terias tu sentido? só por pura magia. como se sente no rosto o que alguém deu a uma fotografia?
e no entanto, voltei a reerguê-las. dei-lhes forma de ninho. coisa boa para início de vida com carinho.
mas tu não estás. não és. ou és e não queres ser essa pessoa boa e comovente que me deu para gostar. e tão pouco eu gosto já de gente...
sacudo a cabeça de repente. vamos a acordar. isto é a cercania do natal e este tempo em excesso para sonhar. o melhor é fazer um telefonema e escolher um jantar.
cura o romantismo e a melancolia num instante de tão prosaico e citadino ser.
mas nos meus olhos. bem a brilhar cá dentro há ainda a panela na lareira sobre toros a arder.